No dia 28 de Outubro de 2020 e a seu pedido, o Presidente da República ouviu a Ordem dos Biólogos, que se fez representar pelo seu Bastonário José Matos e por Miguel Viveiros, representante da Ordem no Conselho Nacional da Saúde. Na agenda estava a pandemia de Covid 19.
Desse encontro, damos a todos os membros as principais notas:
Foram abordados três assuntos principais: testagem de diagnóstico para o SARS-CoV-2, o que a Ciência tem a dizer sobre a COVID-19 e como a comunicação sobre a pandemia deve ser feita para os cidadãos.
Pela voz do bastonário, foi salientado:
- que a grande capacidade de realização de testes tem por detrás biólogos, cujo trabalho alicerça a resposta dos laboratórios públicos e privados no diagnóstico célere que a linha da frente (médicos, enfermeiros e restantes profissionais da saúde) necessita, e cujo reconhecimento público importa ser feito.
- o facto de a segunda vaga que atravessamos apresentar valores significativamente superiores à primeira e durante um maior período de tempo, o que pode levar a que o número de técnicos existentes seja insuficiente para responder à necessidade de aumentar o número de testes, apesar da bolsa de voluntários que em boa hora a Ordem dos Biólogos criou.
- a urgência em acautelar a reserva estratégica de kits para testes, que não podem esgotar, como anteriormente aconteceu.
- que os investigadores portugueses, não só por se disponibilizaram como voluntários para ajuda às equipas laboratoriais, mas também por terem criado num curto espaço de tempo, com eficiência e eficácia, laboratórios de testes de diagnóstico nas universidades, institutos e centros de investigação nacionais, merecem o maior respeito e reconhecimento.
- que os investigadores deram ao mundo um exemplo de cooperação internacional, contribuindo de forma significativa para que a sequenciação do genoma do vírus fosse a mais rápida e partilhada alguma vez vista, demonstração clara de que com trabalho concertado é possível evoluir no conhecimento, o que os políticos globalmente não fizeram, decretando medidas diferentes consoante o país.
Considerou ainda:
- haver uma grande mobilização da comunidade científica, com apresentação de propostas que originaram projetos de investigação de grande importância, existindo mesmo uma empresa portuguesa a desenvolver uma vacina, já em fase de testes em animais.
- que Portugal já não está nos anos 80 quanto a meios técnicos e recursos humanos especializados e competentes, antes se situa na linha da frente da excelência.
- que é, contudo, necessário um maior investimento em projetos de investigação, pois só assim será possível a pesquisa de novos fármacos, vacinas e demais ferramentas para combater pandemias e doenças emergentes, resultantes da forma como a pressão humana tem desequilibrado os ecossistemas, despoletando ameaças à saúde global.
- que no centro deste tipo de investigação estão os biólogos, ilustrando este facto com a atribuição dos Nobel da Medicina ou Fisiologia e Nobel da Química a biólogos, prova de que em todo o mundo lideramos a investigação em ciências biológicas!
- que é necessária informação rigorosa e credível, dado a globalização estar a provocar a disseminação de informação falsa, como promessas de curas e tratamentos milagrosos.
- que é muito importante falarmos sempre verdade, nomeadamente sobre as máscaras, porque se estas não param a pandemia, impedem seguramente a disseminação descontrolada do vírus, da mesma forma que o guarda-chuva não pára a chuva, mas ajuda a que nos molhemos menos.
- que é necessário dizer que as vacinas não irão conferir 100% de imunidade, mas que se usadas simultaneamente com outras formas de prevenção vão fazer reduzir o número de casos, protegendo também o Serviço Nacional de Saúde.
- que a Ordem dos Biólogos tem vindo a fazer trabalho nesta matéria, com a produção de vídeos para o Programa Ciência Viva, divulgação de informação com artigos nos jornais e formação para professores, referindo que estaremos sempre disponíveis para contribuir e colaborar com as entidades da Saúde.
Miguel Viveiros referiu:
- a necessidade de haver informação dirigida a grupos específicos de doentes, como os diabéticos, os hipertensos ou os portadores de doenças auto-imunes, bem como a importância do rigor e da clareza da comunicação, no desígnio imperioso de eliminar as desconfianças em relação a uma vacina para COVID-19, cujo desenvolvimento, por ter sido acelerado, pode colocar dúvidas sobre a sua segurança.
- que apesar de os grupos anti vacinação em Portugal não terem muita expressão, a situação pode reverter-se aquando da chegada da vacina.
Porque quebrar as cadeias de transmissão é uma tarefa de extrema dificuldade, que necessita de meios humanos e técnicos que hoje não conseguem responder ao surgimento de cada foco, a Ordem informou ainda a Presidência que propôs, na sequência de reunião com o senhor Subdirector-geral da Saúde, a utilização dos professores de biologia como agentes de identificação e interrupção das cadeias em escolas do ensino secundário, comprometendo-se a dar formação adequada aos docentes.
Todas estas reflexões foram acolhidas com agrado pelo Senhor Presidente da República, nomeadamente a necessidade de reconhecimento público do trabalho realizado pelos biólogos nos laboratórios de diagnóstico e de investigação do vírus SARS-Cov-2, tendo ainda concordado com a necessidade de aumentar os apoios à investigação, bem como garantir uma informação mais credível, agradecendo a disponibilidade da nossa Ordem Profissional para contribuir neste campo.
Acolheu também com agrado a sugestão de englobar professores de Biologia na identificação de cadeias de transmissão, assunto que vai discutir com o Governo.
Lisboa, 31 Out 2020